fade out.
"wish you were here".
lembro de ter chorado da última vez que ouvi essa música, enquanto assistia você descolar as falanges da mesa da cozinha. você apertava o punho com força e olhava pra luz fria que piscava no teto quando a música parou de tocar. como quem tenta evitar o primeiro soluço. como quem tenta afastar a solidão de sempre, provisoriamente. aquela mesma solidão que você não permitiu que eu guardasse no sótão embaixo do vestido branco que eu também não pretendia usar. aquela mesma que você pediu que eu pintasse com cores vibrantes e disfarçasse de alegria nos dias de chuva que são mais raros. aquela que você dizia que tanto prezava, enquanto eu só queria estar ali ao lado do abajur alimentando minhas alergias com algum livro empoeirado. seus dedos ainda estão na mesa da cozinha. eu não limpei. não limpei nenhuma marca que você deixou. adquiri um novo hábito estranho: espalho post-its pela casa pra não esquecer por que estou aqui e você não está. deixo um rastro que não pretendo seguir, pra lembrar que eu escolhi o outro braço da bifurcação. pra não voltar. sabe como é, as minhas memórias só contém sorrisos que escaparam pelo canto da sua boca e isso não me ajuda a esquecer. ao contrário de você, eu sou covarde. sempre tive um puta medo de olhar pra trás e dar de cara com os monstros que tranquei no sótão embaixo do vestido branco. rezo pra que eles fiquem no lugar que eu tinha reservado pra sua solidão e não assombrem a minha. à noite encosto o nariz no vitrô e conto os náufragos que passam pela avenida sem rumo, como eu sempre fazia te esperando chegar. foi assim que deixei aquelas marcas meio triangulares na janela do seu quarto. com um pouco de vapor, elas ainda revelarão breguíssimos 'eu te amo' que escrevi por ali em letra de mão.
para escrever bonito, tem que saber escrever difícil! É um difícil muito fácil de se entender e sentir!
Te amo amiga
parabéns
ah, que linda! eu também te amo. muito mesmo.